Sobre pocilgas e porcos

Na coluna de hoje, recontarei aqui histórias orais, que foram um dia contadas, a quem me contou. Não são contos, mas conto com a mesma satisfação de quem ouviu as verídicas trajetórias de vida dos protagonistas. E se tais historietas não foram exatamente assim – na minha livre adaptação, com diálogos totalmente inventados –, podem ter certeza de que a moral que trazem, é tão verdadeira quanto o sucesso de quem as viveu.

A bela pocilga 

Reynaldo Migliavacca – apesar do nome lembrar-nos de outro animal – foi um dos maiores expoentes da suínocultura do Brasil. Começou sua produção em Casca, lá pelos idos de 1947, e ganhou prêmios de relevância até mesmo no cenário internacional. Reza a lenda que, certa feita, um produtor de São Paulo – talvez querendo pavonear-se perante o reconhecido criador –, sob o pretexto de comprar-lhe exemplares de raça, convidou Migliavacca a conhecer sua mais nova pocilga. Que, para os não entendedores, é o lugar onde se criam os porcos. – Veja Migliavacca, minha bela pocilga! Telhado reluzente, piso impecável, paredes de fino trato, onde meus porcos até ouvem música. Gastei mais de um milhão, nessa construção. Consta então que Migliavacca olhou tudo com atenção, antes de perguntar ao vaidoso criador. – Sim, bela pocilga... Mas e quanto aos porcos? Quanto pretende o amigo investir nos porcos que vai adquirir? – Ah, bem. Creio que já não me sobra tanto, talvez bem menos que um quinto. Investi muito do que tinha na construção dessa pocilga. – Pois muito bem, meu prezado, ouça então o conselho que dou. Na próxima vez que quiser bem investir, gaste menos na pocilga, e atenha- -se mais ao porco. Pois sua bela pocilga é custo, enquanto seu lucro só poderá vir dos porcos. De minha parte, anotado, para ser seguido. E troque o porco, pelo produto que lhe convir.

O porco que valeu milhões

O porco que valeu milhões. Há pouco mais de um século, lá pelas bandas da serrana Canela, um pai chega a seu filho que, ao completar 18 anos, buscava colocação de trabalho. – Filho, estás feito na vida! Tens à tua espera emprego na prefeitura, de onde só sairás aposentado. O filho, ainda que agradecido, teve que ter a firme decisão de desiludir o pai. – Se queres me ajudar, meu pai, ajuda-me a comprar um porco. – Um porco? Mas de que valia te faria isso? – Pretendo levar à colônia, e negociá-lo por linguiça, charque e banha. Vendo aqui na cidade e, se for bem sucedido, compro dois porcos e refaço o caminho. E ainda que desenchavido pela recusa do filho a estabilidade que aquele emprego daria, ajudou na compra do primeiro porco. A verdade, amigo leitor, é que o rapaz hoje já não está mais aqui para me confirmar se a conversa com o pai foi bem assim. Mas antes de partir, contou a história a meu pai, que transmitiu a mim, para contar a vocês. E, além de uma bela história, o comprador daquele primeiro porco, outro porco vai, outro porco vem, foi progredindo e mudando de ramo, deixando uma herança de muito milhões... de dólares. Tudo porque decidiu empreender. Conheci criança o dono do porco. E mesmo dono de fortunas, continuava com a mesma simplicidade de quem ia comerciar na colônia. Até a próxima semana, com mais historietas... e novidades!



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